Perdi a conta às vezes que tenho feito as malas. Assentei em Coimbra e em Barcelona, escrevendo a tese, manuais, recensões e mais romances, antes de pendurar o casaco em Braga. Fazendo ainda mais amizades e deixando ainda mais saudades, percorri o território nortenho, ao lado da Cris, também ela a terminar os seus dois anos pela Europa. Temos explorado o desconhecido — a ver se também nos conhecemos um pouco melhor a nós próprios — além de ambicionarmos ainda maiores desafios para a vida.
Lembro-me da roadtrip de 1200 quilómetros até Angers, quando estacionámos a meio caminho para pernoitar em San Sebastián. Apesar de todas as estrelas Michelin e dos restaurantes gourmet, sentámo-nos numa tasca e pedimos cañas e pintxos. Não há dúvida de que acabamos quase sempre por escolher as coisas simples da vida.
Depois de outra temporada em Coimbra, desta vez juntos, foi mesmo isso que fizemos: regressámos aos Açores para um descanso merecido. Abraçar a família e as filhas é das tais coisas simples da vida, prazeres de que temos abdicado para procurar o que nos realize. O ano acabou e começou outro, com mais abraços e novos planos, muitos deles em aberto. Por vezes, é difícil só saber dos próximos três meses das nossas vidas. Têm-nos dito que é preciso coragem. Mas, olhem, andaremos mais uns tempos ao sabor do vento. Há que continuar.