Decidir cinzento

Vejo tudo negro. Tudo cinza. Não enxergo que lado é este que tanto me atormenta, que tanto me castiga. Vai! Vai embora! Deixa-me estar na minha alegria, no sorriso que transbordo para os que me abraçam. Liberta-me das tuas unhas, que não as quero mais poderosas, liberto-te do poder que tens sobre mim, liberto-me de ti e dos teus males!

The Scream – by Edvard Munch

Mas não vais só, não…. Não permitirei! Vais carregar um fardo, vais penar pelo caminho, vais sangrar dos ombros — do peso da culpa, do desânimo, da ira, do cansaço, da raiva! De tudo o que me trazes! Tudo o que me dás de mão cheia! Vais levar tudo contigo, às costas!

Deixa-me voar, sonhar, sorrir, estar bem comigo próprio, estar bem com quem me envolve, estar bem com quem me quer bem! Liberta-me dessas garras ensanguentadas do casco da minha cabeça! Que tanto me atormentas por dentro dela, ainda queres rasgá-la por fora? Larga-me, deslarga-me, libera-me, solta-me! Não me julgues, não me consumas, não me apavores mais!

Pois eu sou apenas uma criança. Eu sou apenas um menino encolhido dentro de mim próprio. Eu preciso de um abraço, de um carinho, de um amor…. de um beijo! Eu preciso de mim próprio. Tenho saudades do eu antigo, do homem forte, do homem corajoso e verdadeiro. Aquele que luta pelos sonhos, que não se perde pelo caminho, que conhece o rumo que toma, que não tem dúvidas! Ai, as dúvidas…. que tanto se apoderaram do meu entendimento, que já não sei o que lhes fazer. Já duvido de todos, duvido da vida, duvido se estou mesmo aqui, duvido do ontem, do que aconteceu, e até do amanhã. Duvido mais ainda: duvido de mim próprio. E isso não pode acontecer. Mas aconteceu. Estou assim.

Peço aos anjos que me guardem, aos espíritos que me iluminem, aos deuses que me ofereçam pistas de para onde devo ir…. E, então, acabo por decidir. Acabo por tomar uma decisão. Decido não fazer nada. Decido não ir por um nem outro caminho. Nem é branco, nem é preto: é cinzento. Decido não decidir. Que venha a vida e faça de mim o que bem entender.

Publicado por Pedro Almeida Maia

http://www.almeidamaia.com/

5 opiniões sobre “Decidir cinzento

  1. Parabens pelo excelente e magnifico trabalho!
    Penso que cada um de nos tem um lado cinzento por dentro. Eu tenho, mas decido decidir pelo branco…..Um grande bem haja e tudo de bom!
    Abrc
    Zeza

    1. Sem dúvida! E nem sempre é fácil assumir que ele está lá. Por vezes, simplesmente admiti-lo é o suficiente para o enfraquecer. Muito obrigado pelo comentário. Abraço!

  2. Espero, que tudo tenhas deixado ir, mas com um desejo de que tudo o que libertas seja devolvido à fonte em forma de Luz e amor.
    Lembra-te, sempre que este é o jogo da ilusão e tu decidiste participar, mas não é para levar a sério, é mesmo uma ilusão e eu estou aqui para jogar contigo. A minha criança interior diz para a tua, não te esqueças que estamos juntos e que somos todos um, em consciência e espírito, e nós crianças não podemos viver amarfanhadas, nem aprisionadas no medo, nós somos Alegria, Harmonia, equilibrio, Paz e amor.
    É esse o nosso processo.
    És o meu menino!
    Estou sempre contigo!
    Amo-te!

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