A brasileira açoriana

Faltava cerca de hora e meia para comemorarmos quarenta anos menos um da passagem do hino histórico de Zeca Afonso “Grândola Vila Morena” na rádio, em sinal de início de revolução, e já o Teatro Micaelense estava revolucionado. Na segunda sessão consecutiva de casa cheia, Adriana da Cunha Calcanhotto subiu ao palco e recebeu o caloroso aplauso de boas-vindas.

Monumento aos Açorianos
Monumento aos Açorianos

A aclamada cantora e compositora brasileira, também conhecida por Adriana Partimpim, falou da particularidade emocional de actuar nos Açores, principalmente devido às suas origens: Porto Alegre é a cidade-capital do estado de Rio Grande do Sul, fundada por casais açorianos no século XVIII, na sequência do Tratado de Madrid e por ordem do rei português: o “Largo dos Açorianos” ostenta o monumento onde se pode ler “jamais sonhariam aqueles casais açorianos, que da semente que lançavam ao solo nasceria o esplendor desta cidade”. Hoje em dia com quase um milhão e meio de habitantes, a metrópole fundiu-se novamente com as suas origens, desta feita através da música emblemática de Calcanhotto, que confessou ter finalmente percebido o porquê de os açorianos terem escolhido Porto Alegre para viver — “um lugar onde também faz quatro estações num dia”, disse ela.

Filha de um baterista de jazz e de uma bailarina, recebe um violão quando chega à meia dúzia de primaveras e deixa-se influenciar pela música popular brasileira. Enquanto cresce, actua em alguns bares da cidade-natal, no seu estilo inconfundível de “uma mulher e o seu violão”. Lançou “Enguiço” em 1990 e não mais parou, os discos de estúdio seguiram-se: “Senhas” (1992); “A Fábrica do Poema” (1994); “Maritmo” (1998); “Público” (2000); “Cantada” (2002); “Maré” (2008); e “O Micróbio do Samba” (2011). Nos álbuns infantis, iniciou-se com o badalado “Adriana Partimpim” (2004), vencedor do Grammy Latino 2006. Depois, “Partimpim Dois” (2009) e recentemente “Partimpim Tlês” (2012).

Foto de: Fernando Resendes (Teatro Micaelense)
Foto: Fernando Resendes (Teatro Micaelense)

O encore trouxe “Fico Assim Sem Você”, depois da enormidade de êxitos que desfilaram entre a doce voz e os dedos teimosos no violão. É incrível como a simplicidade enche recintos! Outro dom que o povo brasileiro tem, além da sonoridade cadenciada do sotaque, é a partilha. Sim, devíamos aprender com eles. Muito banalmente trocam letras, melodias e composições, interpretam-se uns aos outros sem preconceitos.

Enfim, Adriana fica na aurícula!

in Jornal Terra Nostra, 3 de Maio de 2013
in Jornal Paper.li #MPB (Brasil), 3 de Maio de 2013
in Revista Arepa Salsa Jazz (Brasil), 6 de Junho de 2013

Publicado por Pedro Almeida Maia

http://www.almeidamaia.com/

3 opiniões sobre “A brasileira açoriana

    1. Sim, foi sem dúvida um concerto “íntimo”, em todos os sentidos. Mas é impressionante como uma mulher e um violão enchem casas de espectáculo!

    2. Verdade!
      Eu consegui lugar no espectáculo inicial, mas acabei por trocar para o outro extra porque os lugares eram escassos e maus. ahaha
      Venham mais nomes assim! 🙂

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