O éfe-erre-á ouviu-se várias vezes naquelas duas primeiras noites de primavera, em alusão ao acrónimo original conimbricense — F-R-A: Frente Revolucionária Académica. Em 1938 o grito tinha índole político, mas agora serve propósitos comemorativos, embora muitos ainda precisassem de um bom chiribitatatata. Foi com espírito revolucionário, mas pacífico, que as tunas invadiram o palco do Coliseu Micaelense para o XV Festival Internacional de Tunas “El Açor”, nos dias 21 e 22 de Março de 2014. Desde o último ano do século passado que a Tuna Masculina da Universidade dos Açores, conhecida intimamente por Tunídeos, organiza o evento icónico, que conta com a apresentação originalmente imprevisível dos hilariantes Tunalhos. O público duvidava para onde dirigir a atenção, sem saber se aplaudia mais os intervalos divertidos ou as atuações memoráveis.
Esta comemoração tunificadora do espírito académico já passou pelo Teatro Micaelense e pela Aula Magna, mas o coliseu é o mais recente epicentro do contágio da cidade com humor, música e solenidade. A cultura regional açoriana já não passa sem este convívio tunante de cardumes escombrídeos desenlatados. Os tunadores vêm de todo o país e arredores, com os seus contrabaixos, guitarras, bandolins, cavaquinhos, violas da terra, violinos, acordeões, flautas, tambores, pandeiretas, estandartes e bandeiras. A festa é arrojada, a arte do pandeiretismo deixa boquiaberta a audiência e as bandeiras esvoaçantes elevam o espírito estudantil.
A palavra tuna provém do francês tune, “hospício de mendigos”, e do castelhano tuna, “vadiagem”. Talvez sejam esses os ingredientes fulcrais à tunantaria, aquele calor que passa dos palcos diretamente para os corações da assistência. E assim conseguiram encher a alma e lotar a sala, com tunantagem e sem chantagem. O recinto repleto bombeava entusiasmo, numa mescla universitária festiva, com direito a camarote para a nobre psicossaurologia. Se aquelas noites fossem uma praxe, todos quereriam ser praxados.
Foram convidados especiais os Brass Band, mas também subiram ao palco da primeira noite a mui nobre Tuna Académica da Universidade dos Açores (TAUA); a fantástica Tuna de Tecnologias da Saúde do Porto (Tuna TS), depois de três saudosos anos de interregno; a ilustre “mais jovem e mais velha” tuna açoriana, Real Extudantina dos Açores (RExA); e ainda a galardoadíssima Tuna Universitária de Trás-os-Montes e Alto Douro (Transmontuna). O dia dois prendou a audiência com a sempre glamorosa e encantadora Tuna Feminina da Associação Académica da Universidade dos Açores (Tuna com Elas); a Tuna Académica do Instituto Superior de Engenharia do Porto (TAISEP), cujo lema é “diverte-te a ti mesmo e só depois os outros”; a Tuna do Distrito Universitário do Porto (TDUP), que dá o prazer da visita ao festival pelo segundo ano consecutivo; e a Tuna Mista da Escola Superior de Enfermagem de Ponta Delgada (Enf’ In Tuna), que tão musicalmente cuidará de nós nas enfermidades.
Foi com a já imprescindível e inimitável curta-metragem de qualidade tunal que se deu o início do fim, o encerramento com chave de ouro pelos anfitriões do evento. Depois, o aguardado momento da distribuição dos prémios: Melhor Estandarte: TAISEP; Melhor Pandeireta: Tuna TS; Melhor Solista: TDUP; Melhor Original: Tuna TS; Melhor Instrumental: RExA; Tuna mais Tuna: Transmontuna; 3.ª Melhor Tuna: TAISEP; 2.ª Melhor Tuna: Tuna TS; Melhor Tuna: RExA.
Os Tunídeos são de parabenizar, não só pelas atuações de grande nível, por juntar no palco a multidão dos antigos elementos ou pela originalidade do jocoso sketch musicovideográfico, mas também pela organização e dinamização deste evento marcante. Um apontamento para a inovação deste ano: os elementos transversais a toda a encenação, Super Mário et al., que interrompiam e intercalavam inteligentemente as performances. Outra vénia vai para a iniciativa da oferta de uma cadeira de rodas a quem muito precisava. É em tempos difíceis que as grandes mentes emergem.
Na festa depois da festa, para não inglesar afterparty, o campus de Ponta Delgada da Universidade dos Açores pareceu iluminado, animado e recheado de vida. Tal e qual um dia de aulas normal, passo o sarcasmo. Nesta grande festa do “El Açor” ficou tudo bem impregnado na retina, no palato…. e na aurícula. Venham mais quinze!
in Jornal Terra Nostra, 4 de abril de 2014
Já acompanho o El Açor há 12 anos, mais coisa menos coisa… é um festival divertido, em que esquecemos os problemas por duas noites, o que é muito bom.
Este ano, por acaso, não foi dos que gostei mais (sobretudo, a primeira noite), mas acho que por não estar com o espírito de diversão naquela noite.
Sem dúvida que merecem os parabéns, porque não é fácil manter algo com o mesmo nível durante 15 anos.
A novela “Amor de Verão” foi genial! 🙂
“Amor de Verão” foi mesmo genial. 🙂